quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Eu, modo de usar

Pode invadir ou chegar com delicadeza,mas não tão devagar que me faça dormir.

Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar.

Acordo pela manhã com ótimo humor mas ...permita que eu escove os dentes primeiro.

Toque muito em mim, principalmente nos cabelos e minta sobre minha nocauteante beleza.

Tenho vida própria, me faça sentir saudades,conte algumas coisas que me façam rir,mas não conte piadas e nem seja preconceituoso,não perca tempo, cultivando este tipo de herança de seus pais.

Viaje antes de me conhecer,sofra antes de mim para reconhecer-me um porto,um albergue da juventude.

Eu saio em conta, você não gastará muito comigo.

Acredite nas verdades que digo e também nas mentiras,elas serão raras e sempre por uma boa causa.

Respeite meu choro, me deixe sózinha, só volte quando eu chamar e,não me obedeça sempre que eu também gosto de ser contrariada.( Então fique comigo quando eu chorar, combinado?).

Seja mais forte que eu e menos altruísta!

Não se vista tão bem... gosto de camisa para fora da calça,gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço.

Reverenciarei tudo em você que estiver a meu gosto:boca, cabelos, os pelos do peito e um joelho esfolado,você tem que se esfolar as vezes, mesmo na sua idade.

Leia, escolha seus próprios livros, releia-os.

Odeie a vida doméstica e ame os agitos noturnos.Seja um pouco caseiro e um pouco da vida,não de boate que isto é coisa de gente triste.

Não seja escravo da televisão, nem xiita contra.

Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai.Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes.

Me enlouqueça uma vez por mês mas, me faça uma louca boa,uma louca que ache graça em tudo que rime com louca:loba, boba, rouca, boca ...

Goste de música e de sexo (goste muiiiiito de sexo).

Goste de um esporte não muito banal - futebol, lógico.

Não invente de querer muitos filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua familia...isso a gente vê depois ... se calhar ...

Deixa eu dirigir o seu carro, que você vai amar demais.

Quero ver você nervoso, inquieto, olhe para outras mulheres,tenha amigos e digam muitas bobagens juntos.

Não me conte seus segredos ... me faça massagem nas costas.

Não fume, beba, chore, eleja algumas contravenções.

Me rapte!Se nada disso funcionar ...experimente me amar !!!

Apenas mais uma de mim mesma...


Eu sei que falei em prazer gratuito semanas atrás, e sei o que vc pensa a respeito: nada é gratuito. Mas, por enquanto não consigo contrariar essa forte impressão de que a conta não virá. Se eu sinto alguma culpa, não é pelo o que faço às escondidas, não é culpa por estar me dedicando a uma experiência socialmente reprovável : é culpa por não sentir culpa alguma. Por estar achando tudo condizente com meu grau de exigência em relação ao aproveitamento do meu tempo, condizente com a minha fome, que nunca foi de comida, mas de vivência.A pergunta que mais faço é: pq não? Desde pequena, desde que tomei gosto pelo ato de respirar e me senti atraída pelos dias que estavam por vir, horas repletas de novidade, desde que eu despertei para a leitura e que passei a sentir o sabor das coisas de uma forma muito entusiasmada, desde que eu soube que podia pensar e que o pensamento era livre, que dentro do meu pensamento ninguém poderia me achar, desde que meus seios cresceram e eu descobri que pessoas tinham cheiro, desde lá até aqui eu me pergunto: pq não me oferecer para aquilo que não fui preparada? Eu tenho as armas de que necessito para me defender, e mesmo que eu perca, eu ganho, já perdi algumas vezes e sei como funciona a lei das compensações.Quero acolher com generosidade o que em mim se manifesta de forma incorreta. Não vou pedir permissão aos outros para desenvolver a mim mesma, mando no meu corpo e em tudo o que ele confina, coração incluído, consciência incluída. Talvez eu esteja com receio de ter ido longe demais desta vez e esteja preparando a minha defesa, caso alguma coisa não saia como esperado. O que eu espero? Não espero nada, espero tudo, estou à deriva nessa aventura. Eu queria cristalizar esse momento da minha vida, mas estou em alta velocidade, e não sei se quero ir adiante, só que eu não tenho opção. Acho que é isso. Eu tinha opções, agora não tenho. Não consigo parar esse trem...

Pode partir...



Vá entrega-te eu ficarei bem.
Ame, mas não ame como eu te amei.
Implore, mas não o tanto que te implorei.
Não olhe para trás, pois eu ficarei bem.
Busca teus desejo ou de ilusões.
Enquanto eu espero a chuva passar.
O céu ainda esta acima de ti esperando você viver teus anseios,
suas angústias.
E eu em meus devaneios vou procurar não te buscar.
Vivendo e segurando no peito mais uma lembrança de uma partida.
A dor da ferida ainda há de cicatrizar.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008